Materiais da Mata Atlântica

Materiais da Mata Atlântica

Entender mais as características dos seres que estamos estudando é uma excelente maneira de aprofundar nosso conhecimento e ainda sermos capazes de reconhecer aquele ser em meio a natureza, já que nem sempre essa é uma tarefa realmente fácil. As pessoas das comunidades tradicionais transmitem este conhecimento de geração em geração, observando a ecologia local: identificando as plantas na mata, sabendo a hora da maré ideal, acompanhando as fases da lua, se localizando na mata fechada, e tantas outras formas de sabedoria.

A matéria prima para produção desses objetos gera renda para as suas famílias, que movimenta a economia de Ubatuba, mas que também traz fluxo e dinâmica para a transmissão dos saberes, uma das dimensões da cultura.

O artesanato concebido como integrante da cultura material de um povo expressa seus traços e valores étnicos e culturais, pois cada peça é reveladora de condicionantes sociais, econômicos, históricos e ecológicos típicos.

Dessa forma, vamos listar algumas características dessas espécies que você vê nestes artefatos e que provavelmente ainda não sabe, mas gostaria de saber.

Taquara-lixa

Família – Poaceae (Gramineae) Subfamília Bambosoideae.

Nome científico Merostachys multiramea Hack.

Nome popular – Taquara-lixa.

DESCRIÇÃO DA ESPÉCIE:

Planta lenhosa, perene nativa da Mata Atlântica, ocupa clareiras e não permite a regeneração de espécies nativas. Pode ser considerada uma espécie indicadora de degradação e antropização. As comunidades indígenas utilizam as tiras desta espécie de bambu para a confecção de cestos e balaios, que são vendidos nos centros urbanos e rurais. Há um fenômeno conhecido como “Seca da Taquara”, em que ocorre a morte de todos os taquarais. A população comenta que este fenômeno ocorre a cada 30 anos e que coincide com um aumento da incidência de camundongos nas residências e depósitos agrícolas, possivelmente pela falta de alimentos (brotos).

Cipó Imbé

1 Planta trepadeira (Philodendron bipinnatifidum), da família das aráceas, nativa de diversos países da América do Sul e de várias regiões do Brasil, de folhas bipinatífidas, brilhantes na página superior, e bagas cilíndricas, de coloração amarelo-avermelhada, conhecidas como banana-de-imbé. Suas raízes são utilizadas no fabrico de vassouras e cordas grossas; cipó-imbé, fruto-de-imbé, guembê, imbé, imbé-de-comer.

2 Planta trepadeira (Philodendron imbe), da família das aráceas, nativa do Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, de raízes e caule escuros, folhas de coloração verde-clara e bagas amarelas. Suas folhas e raízes têm propriedades purgativas; curuba, folha-de-fonte, tajá-de-cobra, traquá

Taboa

Nome Científico: Typha domingensis

Família: Typhaceae

Características Morfológicas: Planta hidrófita (aquática), perene e ereta, de tamanho que pode variar de dois a quatro metros de altura. Floresce de julho a agosto. Detalhe interessante: a parte superior da espiga é composta de flores masculinas, que caem; já a inferior, cor de chocolate ou ocre, é das femininas. O fruto, exótico, apresenta plumas.

Ocorrência Natural: Comum em todas as regiões de lagoas, brejos, solos arenosos ou argilosos ácidos e alcalinos. Presente em todo o Brasil.

A taboa, quando jovem, é uma planta inteiramente comestível. Para começar, a espiga pode ser cozida ou assada, como um milho verde (aliás, tem proteína equivalente a ele), usada para fazer sopas, purês e até chocolate. O broto pode ser comparado a um palmito e até o pólen serve para doces. De quebra, as sementes contêm 88% de óleo, comparável aos de girassol e de canola.

Na natureza, a taboa funciona como um abrigo para muitas espécies de roedores e aves. Utilizada como matéria-prima para papel, pastas, cestas e outros itens para artesanato.Aliás, sua fibra é excelente (fica entre a juta e o cânhamo), com utilização em estofados, para a vedação contra água – pois incha – e como isolante térmico.

É conhecida também como paineira-de-brejo, capim-de-esteira, paina, paina-de-flecha, paineira-de-flecha, pau-de-lagoa, taboinha, tabu, entre outros.

Pindoba

Attalea humilis

Nomes populares: anajá-mirim, catolé, coco-catolé, coco-de-pindoba, indaiá-mirim, pindoba.

Planta com 1,2-3,1 m alt. Estipe solitário, geralmente subterrâneo, raro aflorando alguns centímetros sobre o solo.

Distribuição e ecologia: esta espécie ocorre desde a Bahia até São Paulo. Apesar de sua presença marcante no Rio de Janeiro, com muitos indivíduos crescendo tanto nas matas de restinga quanto nas encostas de mata atlântica, ora em formações gregárias ora isoladas, a espécie ocorre com maior abundância nas serras declivosas de Mata Atlântica. Nas encostas florestadas, onde os solos são úmidos e férteis, porém bem drenados, a espécie atinge um maior porte, podendo cada folha apresentar até 5 m de comprimento. Nas matas secas de restinga as populações são mais densas e os indivíduos são em geral menores, diminuindo sua quantidade e seu tamanho conforme se aproximam das matas alagadas. Já nas encostas nuas e ensolaradas na beira das estrada, onde são comuns, apresentam-se anãs, formando populações numerosas com indivíduos de folhas freqüentemente amareladas.

Guapuruvu

Nome científico: Schizolobium parahyba

Família: Fabaceae

Utilidade: A madeira do guapuruvu é pouco resistente, mas presta-se à confecção de embarcações tipo canoas exatamente pela leveza e facilidade de entalhe. A madeira é muito leve, com a densidade de 0,32 g/cm cúbico. Indicada para miolo de painéis e portas, brinquedos, saltos de sapato, formas de concreto, compensados e caixotaria.

Floração e Frutificação: Floresce em Agosto a Setembro. Frutos caem por volta de Junho.

Características: O guapuruvu (Schizolobium parahyba) é uma árvore da família das fabáceas, notável pela sua velocidade de crescimento que pode atingir 3 metros por ano.

A árvore é também conhecida como guarapuvu, garapuvu, guapiruvu, garapivu, guaburuvu, ficheira,bacurubu, badarra, bacuruva, birosca, faveira, pau-de-vintém, pataqueira, pau-de-tamanco ou umbela.

Foi inicialmente descrita por J. M. C. Vellozo em 1825 sob o nome de Cassia parahyba.

Atinge de 20 a 30 metros de altura, 60 a 80 centímetros de diâmetro na altura do peito. Flores grandes, vistosas, amarelas. Tronco elegante, majestoso, reto, alto e cilíndrico, casca quase lisa, de cor cinzenta muito característica. Floresce durante os meses de outubro, novembro e dezembro. Folhas compostas bipinadas de 80 a 100 cm de comprimento com 30 a 50 pinas opostas. Quarenta a sessenta folíolos por pina, de dois a três cm de comprimento.

Planta decídua, heliófita, pioneira e seletiva higrófita, exclusiva da mata atlântica. Dispersão irregular e descontínua, prefere matas abertas e capoeiras, muito rara na floresta primária densa. Floresce a partir de agosto até outubro, após a queda da folhagem. Os frutos amadurecem de abril a julho.

Araticum

Família: Annonaceae

Annona sylvatica A.St.-Hil. araticum do mato, cortiça amarela, embira

Sinônimos: Annona silvestris, Rollinia exalbida, Rollinia sylvatica

Endêmica: sim 3

Bioma/Fitofisionomia: Mata Atlântica 3

Recomendação de uso: Restauração, Arborização urbana

O araticum-do-mato é um arbusto ou árvore que pode alcançar até 15 metros de altura. Essa espécie, encontrada principalmente em formações secundárias, prefere solos úmidos permeáveis. Por isso é recomendada para a restauração de ambientes ripários. Seus frutos amarelados são comestíveis e de ótimo paladar. Sua madeira não apresenta valor econômico, mas eventualmente é usada para tábuas de forro, caixotaria e cabo de ferramentas.

Usos específicos: produtos madeireiros (artesanato, cabo de ferramentas, caixotaria, celulose e papel, forro e teto, lenha), produtos não madeireiros (alimentação humana, fibras, medicinal, ornamental, produto bioquímico)

Timupeva ou Timbopeva

Philodendron Crassinervium

Taquara

Do Tupi Guarani ta-quara – o trono ou haste furada. Planta da família das gramíneas que alcança grande altura.

Nome Científico: Merostachys multiramea

Família: Poaceae

Características Morfológicas:As folhas, pequenas e compridas, são semelhantes às de muitos bambus (sobretudo os ornamentais). O tronco, na tonalidade verde, lembra, no formato, um pé de cana-de-açúcar (com a diferença que tem o interior oco).

A taquara é uma espécie de bambu que floresce a cada período entre 31 e 33 anos. Após a floração, todos os colmos da taquara morreram e geram várias clareiras de tamanhos diferentes no interior das matas. Novas taquaras germinam nestas clareiras a partir das sementes esparramadas e inicia-se o novo ciclo desta planta.

Após a extração de uma árvore na Mata Atlãntica a entrada de luz permite a taquara se propagar rapidamente e colonizar rapidamente esta área, impedindo a regeneração da floresta.

 

In: MACHADO, Mickael Viana. “Embarcações marítimas artesanais: aspectos construtivos e anatomia descritiva de madeira de duas espécies florestais utilizadas por comunidade do litoral sul fluminense”. Monografia apresentada ao Curso de Engenharia Florestal, Instituto de Florestas da Univ. Federal Rural do Rio de Janeiro Julho de 2010.

Timbuíba

A primeira espécie obtida com um dos artesãos é chamada pelos pescadores de Timbuíba e foi identificada como Balizia pedicellaris da família Fabaceae-Mimosoideae.

Ela é muito utilizada na região devido ao seu grande porte e a vasta ocorrência, sendo fácil a localização de exemplares em condições de uso. Ela ocorre preferencialmente no interior de matas primárias e de capoeirões situados em terrenos de meia encosta, porém úmidos e de boa fertilidade. Sua madeira é moderadamente pesada, de baixa resistência mecânica, pouco durável. Ela ainda pode ser utilizada para confecção de cabos de ferramentas, caixotaria, miolos de compensados, cepas de tamanco e brinquedos. Apesar de ser considerada de pouca durabilidade, ela é muito usada na região para a construção das canoas, que são feitas a partir de um único tronco sendo conhecidas também por “canoas de um tronco só”.

Este tipo de embarcação é utilizado desde a época da pré-colonização, pelos índios, e sofreu pequenas modificações ao longo do tempo. Nos séculos passados, a canoa tinha papel importante na economia pesqueira e era utilizada também como meio de transporte, inclusive entre os moradores da região que vai da baía da Ilha Grande até o litoral paranaense, locais onde se encontram as canoas utilizadas pela cultura caiçara. Naquele tempo, não existia o motor a combustão e quando o mesmo passou a existir, no primeiro momento, era inviável economicamente. Durante este período, também era mais fácil se conseguir árvore de grande diâmetro para a confecção de uma canoa de grande porte.Atualmente, esse tipo de embarcação não é mais tão utilizado e também é cada vez menor o número de pescadores que as constroem. Como conseqüência, esta arte está se perdendo, tendo em vista que esta é passada através das gerações de forma oral. Existem diversas restrições para a prática da atividade de construção artesanal de embarcações, dentre elas algumas impostas pela legislação em vigor, por se tratar espécies ocorrentes em Mata Atlântica, além da dificuldade de obtenção de grandes árvores, o que faz diminuir o interesse das novas gerações em dar continuidade à construção deste tipo de embarcação, segundo relato dos próprios moradores.

Cipó-cabloco

A planta conhecida como cipó caboclo, de nome científico é Davilla rugosa, é uma trepadeira de tamanho variável, nativa do Brasil. Com folhas ásperas e flores amareladas, a planta também é conhecida como capa-homem, cipó capa homem, cipó de carijó, cipó vermelho, lixa, lixeirinha, muiraqueteca, muirateteca, muraqueteca, sambaíba sambaibinha, ou ainda folha-de-lixa.

O plantio pode ser feito por sementes em qualquer lugar do Brasil, mas principalmente na Serra do mar. Somente se faz necessário colocar um apoio para a planta por ela ser uma trepadeira. Seu desenvolvimento se dá de forma mais eficaz em solos areno-argilosos, secos e arejados.

O cipó é usado para a produção de cestos de dimensões e formatos variados e de abanos para fogão de lenha. É trançado ainda verde, sem tratamento prévio, pois depois de maduros perdem a maleabilidade e tornam-se quebradiços.

Fibra de Bananeira

Muitas pessoas se encantam com os mais diversos objetos confeccionados com as fibras de bananeira. Quando preparadas de forma adequada, as fibras garantem às peças durabilidade e resistência, gerando uma infinidade de produtos que podem ser confeccionados com este material.

A origem do artesanato com fibras de bananeira veio da necessidade de algumas famílias obterem utensílios e recipientes de cozinha sem gastos extras. Para isso, elas preparavam as fibras das bananeiras existentes em suas propriedades, para que chegassem ao ponto ideal para confecção de várias peças. Como o resultado final foi de alta qualidade, essa prática tradicional tornou-se um meio de gerar renda para a comunidade.

As fibras são as bainhas foliares extraídas do tronco da bananeira. Cada uma com características distintas. As fibras mais finas são utilizadas para acabamento, costura e adorno. Quanto às fibras mais grossas, elas são utilizadas em elaborações mais rústicas. Há também as fibras internas, que são menos resistentes; e a redinha (fibra vazada) e a fibra raspada (muito resistente).

Semente de Olho-de-boi

Coronha é a semente grande, bonita e lustrosa, da planta Dioclea violacea, também conhecida como cipó-de-imbiri, coroanha, micunã, mucunã assú, olho-de-boi ou pó-de-mico. Essa planta, uma arvoreta de pequeno porte, adora nascer na beira de rios e córregos, aonde as suas sementes chegam, navegando.

Uma semente grande, bonita e lustrosa, que esquenta até queimar quando é esfregada (brincadeira de criança praieira) e muito usada para fazer colar.

Semente de Capiá

Nome popular: Conta-de-Lágrimas, Lágrima-de-Cristo, Capim-de-Nossa-Senhora, Capiá, Capim-Missanga, Capim-Rosário, Rosário, Conta.
Nome científico: Coix lacryma-jobi L.
Família: Poaceae.

– Frutos secos são matéria-prima para confecção de objetos artesanais – como rosários, cortinas, colares e outros objetos de uso doméstico – e até instrumentos musicais de percussão;

– No interior dos frutos, existe uma reserva amilácea, rica em proteínas, vitaminas e sais minerais, que pode ser transformada em uma farinha de alto valor nutritivo.

Caixeta

Nome científico: Tabebuia cassinoides

Família: Bignoniaceae

O caxetal é um tipo peculiar de floresta paludosa de baixa diversidade, embora apresente populações densas de palmiteiros e xaxim e grande quantidade de bromélias no solo e sobre as árvores, formando uma estrutura própria, com espécies distintas das florestas adjacentes.

Apresentam importância ambiental, devido aos recursos hídricos e à biodiversidade e também apresentam importância econômica, mas a exploração destas florestas naturais sempre foi realizada em caráter predatório.

As normas para a exploração da caxeta foram estabelecidas, mediante Resolução SMA no. 11 de 13/04/1992. Desde então, as pesquisas desenvolvidas em caxetais incluem sugestões para a revisão da legislação, visando o manejo florestal da caxeta.

Conhecida ainda como caixeta-mole, essa árvore apresenta rápido crescimento, alcançando facilmente 4 metros de altura aos 2 anos. Por isso mesmo pode ser empregada em reflorestamentos mistos, destinados à recomposição de áreas degradadas de preservação permanente.

Embora seja preferível vê-la nas matas, essa árvore, por conta de sua madeira leve, é empregada na confecção de brinquedos, artefatos leves e caixotaria (além de obras internas na construção civil). Tanto que hoje é pouco avistada no interior das matas.

Urucairana

Nome Científico: Croton urucurana

Família: Euphorbiaceae

Características Morfológicas: Árvore de pequeno porte, com folhas simples e prateadas na parte inferior.

Saiba mais: O que não falta para essa árvore são nomes populares. É chamada de urucurana, urucuana, lucurana, licurana, sangue-da-água, sangue-de-drago, capixingui (em Santa Catarina), tapexingui e tapixingui. Visualmente, pode-se dizer, trata-se de uma espécie pequena (fica entre 7 e 14 metros de altura), com um tronco relativamente fino (de 25 a 35 centímetros de diâmetro).

Apesar de seu tamanho diminuto, tem uma madeira dura e resistente, própria para a construção de canoas ou mesmo para obras hidráulicas e externas (como dormentes e esteios).

Outro fator que pesa a seu favor é que, pelo porte, pode ser aplicada na arborização urbana sem causar grandes estragos à iluminação pública. Soma-se a isso, ainda é melífera.