Quilombo do Camburi

Andança no Quilombo do Camburi.

Timupeva ou timbopeva, tissumi, capitão, raspar, lascar, tecer, trançar…. basta passar uma tarde com um Mestre, fazedor de balaio de timupeva, para começar a familiarizar-se com estas palavras. É bastante interessante aprender sobre o processo de confecção de uma peça artesanal. Tem todo um contexto… desde saber como foi que o artesão aprendeu a confeccionar sua arte até a finalização do objeto.

No caso do seu Manoel Benedito Lopes, 65 anos, Seo Badeco do Camburi, na arte de confeccionar balaio de timupeva, uma de suas habilidades, ele relata que um dia , seu pai estava no começo da trama, e teve que abandoná-la para um outro afazer. “… cheguei , peguei a peça andada, e dei continuação, fui indo, seguindo o que ele tinha começado, e quando ele voltou já tinha tecido um bocado…. Ele me falou: é assim mesmo, este é seu primeiro balaio, você vai fazer mais um, mais outro, e quando menos esperar já vai estar fazendo certinho.” E foi assim que Badeco começou no ofício. Além de seu pai, observou também os índígenas de Paraty trabalhando.

Quando lhe questionei sobre a matéria prima, seu relato mostrou o quão necessário é ter a intimidade e o conhecimento da natureza: “A mãe dele (do cipó) nasce debaixo da terra, e vai se abraçando, lastrando, subindo, quando chega lá em cima, na galharia, ela para vai jogando os brotes (o cipó) até chegar embaixo, aí ela broteia na terra , então ela pega água, joga pra cima para proteger a mãe que está lá em cima. Este processo leva uns 6 meses. e tem mais uma coisa, se tiver 8 cipós, você tira seis e deixa dois, que estes dois é que vão continuar protegendo “a mãe” que esta lá em cima”, explica o artesão.

Após a colheita, não pode deixar passar de três dias para raspar, se não a casca endurece e daí não presta mais, complementa.

Posterior a raspagem, mede-se o comprimento que vai cortar, que é o que determinará a circunferência do balaio. Separa-se dezesseis peças, e o “capitão” que é um cipó ímpar, que serve como guia da trama. O fio que serve para tecer, é tirado do próprio timupeva, só que em uma espessura bem mais fina. Ele recebe o nome de tissumi. “Ele que tece o beiço do balainho”, comenta Badeco.

Cada peça leva, para iniciantes, de 3 a 5 horas para ficar pronta. Mestres confeccionam de 4 a 5 balaios por dia.

O balaio é um utilitário usado pelos povos originários, caiçaras e quilombolas para transportar alimentos da roça, como mandioca, café, verduras, e também para transportar peixes na pesca.

Registros realizados durante a oficina Raízes que Tecem, iniciativa do Instituto Capiá.

Projetos como estes são fundamentais para o mantenimento de nossas  culturas e tradições.

“Ja estou há duas semanas no remendo desta rede”, comenta o pescador. O caminho do cerco tem em média 8 braças (medida usada por eles para determinar o tamanho das redes.)

Seo Bene, hoje com 76 anos, conta que aprendeu o oficio com seu tio, e já o faz, há no mínimo 60 anos. Explica também que esta cada vez mais dificil encontrar pessoas que se interessem a dar continuidade a esta prática.

A panagem dos petrechos de pesca, quando em operação, estão constantementes sujeitas à rupturas, provocadas por pedras, enroscos em objetos existentes no fundo ou mesmo por peixes vorazes, que cortam-na com seus dentes afiados.

Para realizar o remendo, O “PESCADOR ARTESÃO” estende a panagem de forma a dar uma visão geral da parte danificada, e posteriormente executa o corte de maneira a permitir que o reparo seja confeccionado sem interrupção do começo ao fim.

Trabalho exclusivamente ARTESANAL.

Uma amostra dos trabalhos e artesãs da Praia da Enseada.

O Quilombo de Camburi, formado há pelo menos 150 anos, foi constituído desde o princípio por escravizados e ex-escravizados vindos de Ubatuba ou Paraty, indígenas Karapeva, caiçaras e pescadores.. A comunidade de Camburi ocupa um território localizado ao norte do município de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. O território faz fronteira com o município de Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro. Atualmente suas terras se localizam dentro do Parque Estadual da Serra do Mar e parcialmente nos limites do Parque Nacional da Serra da Bocaina, duas unidades de conservação de proteção integral.

Com chegar lá:

Acesso pelo km 1 da rodovia Rio-Santos, há placas indicando a entrada.