Quilombo da Fazenda

Andança no Quilombo da Fazenda

Em nossa visita ao QUILOMBO DA FAZENDA, encontramos um cenário envolvido por mais de 200 anos de história.

O portal que nos leva a uma viagem no tempo, é a imensa roda d’água, herança do antigo engenho de álcool e açúcar do século XIX. O espaço abriga hoje a casa comunitária para a produção de farinha, uma das principais atividades econômicas, assim como o artesanato confeccionado em fibras, sementes e cipós locais.

O Quilombo da Fazenda está localizado no município de Ubatuba, em uma das áreas mais preservadas de Mata Atlântica no estado de São Paulo. Entre serra e mar, a comunidade se encontra em uma localização privilegiada, surpreendendo os visitantes com a beleza da arquitetura que abriga a Roda D’água, as telhas de barro moldadas nos coxas dos escravos, a mata que rodeia o local, as aves , os sons da natureza, o rio, assim como por suas ricas expressões culturais.

A Comunidade do Quilombo da Fazenda preserva inúmeros saberes a respeito da produção artesanal que está associada ao modo de vida de grande parte dos moradores locais.

Natalina Vieira, 53 anos, é filha de Nadir Vieira e do Seo Zé Pedro, figura que me passa a nítida sensação de ser o guardião desta reserva. Suas principais matérias primas são os cipós imbé e timupeva e taboa. O artesanato tradicional resulta dos trabalhos manuais que utilizam matérias primas extraídas da natureza e que envolvem inúmeros saberes ligados às técnicas de produção e dos recursos naturais. O resultado final das peças autênticas desenvolvidas pelos artesãos locais, vai além da destreza manual para criá-las. É necessária uma intimidade com a natureza, conhecer os ciclos da lua, as estações do ano, conhecer as árvores, as sementes , os cipós , além das crendices passadas de gerações. A artesã nos relata os saberes aprendidos com seus pais: Os cipós, são na árvore. Tem que ranca eles com um puxão. O imbé, se vc sair de casa e falar o nome dele você chega lá e não consegue tirar porque ele não rebenta, ele nao sai . O timupeva tem que tirar na minguante”. Ela aprendeu os saberes com seus pais, mas explica que fazer os utilitários, parte, aprendeu com eles ,e também, através de aulas de artesanato que aconteceram na comunidade.

“que nem a esteira…. minha mãe fazia para comprar roupa, comprar sapato para a gente ir para escola, vendia, ia na cidade comprava o pano que ela mesmo fazia, que não era roupa feita, ela mesmo fazia, pra gente ir para a escola, então , eu a observava fazendo…, o que coloquei de moderno no trabalho, que não fazia parte da vida dos meus pais, aprendi nas aulas. Ela exemplifica com a utilização do verniz, “antes era tudo natural e hoje tem outras coisas para incrementar”, explica.

O Manejo

“a gente não vai ter dificuldade com o material, a gente colhe conforme a data, a gente entra no taboal, a gente não estraga, a gente tira , passado um mês a gente vai lá, ta tudo cheio de cipó, cheio de taboa, a gente sabe coletar” (Natalina Vieira).

Este “saber coletar”, a artesã me conta que aprendeu com o pai e com a mãe.

de setembro em diante não pode tirar mais, porque está dando froa (flor), são as sementes para que ela possa reproduzir. Estalar ela, quando tira do brejo. Ela vem tudo grudadinha uma na outra e dai vc estala ela, tira uma por uma, para ela secar mais rápido, porque se deixar ela no talo ela demora mais para secar, e este processo demora cerca de 20 dias de sol, e logo após começa a trança.

O Manejo

De acordo com Natalina, os utilitários perderam um pouco seu lugar para dar espaço ao artesanato contemplativo. “Hoje em dia ninguém mais quer dormir em uma esteira, não é?” , “eu não sinto falta de usar como utilitário”, Quando questiono se ela tem , em sua própria casa aquilo que ela produz, ela responde “tá la na casa do artesanato. É uma coisa assim… eu não gosto, mas se esta lá e porque alguém gosta, e compra”.

Você pode adquirir estas peças genuínas, confeccionadas pelos quilombolas , na casa de artesanato do Quilombo da Fazenda que fica na região norte de Ubatuba (SP). O acesso é pela rodovia BR – 101 no quilômetro 11,5 por uma estrada de terra com 2,5 quilômetros de extensão.

Uma amostra dos trabalhos e artesãs da Praia da Enseada.

Como chegar lá:

O Quilombo da Fazenda está localizado no município de Ubatuba, em uma das áreas mais preservadas de Mata Atlântica no estado de São Paulo.

O acesso à comunidade se dá pela BR 101 (Km 12), entre Ubatuba (SP) e Paraty (RJ), seguindo uma estrada de terra, até chegar na Casa de Farinha, que serve como Centro Comunitário e entrada do Quilombo.